CLÁUDIA ROMARIZ - Top de Marcas Apucarana 2022 - 16/11/2021
“Dado é o novo petróleo”. A frase do matemático londrino, especialista em ciência de dados, Clive Humby, se tornou famosa por sintetizar a potencialidade do Big Data, a riqueza dos dados escondidos no solo fértil das empresas e até a necessidade de sobrevivência no novo cenário do mercado tech.
Mas, para transformar o petróleo em combustível e acelerar o desenvolvimento tecnológico, as empresas precisam perfurar, refinar e tornar a matéria-prima em um produto que atende a necessidade do público-alvo. Esse é o desafio da gestão estratégica dos “heads” e dos novos profissionais, que necessitam de formação qualificada para desempenhar tarefas multiplataformas.
PhD em Big Data aplicado à Comunicação, Lucas Reis, fundador e CEO da Zygon,
avalia que as relações entre pessoas e organizações foram impactadas pelos dados em uma sociedade que busca soluções cada vez mais personalizadas. “Ao invés da ideia de comunicar a mesma coisa para todo mundo, hoje, as empresas podem fazer uma comunicação direcionada, o que é mais relevante e eficiente”, ressaltou.
Mesmo que o nível da comunicação não chegue ao indivíduo de forma exclusiva, como um feed de redes sociais que é pessoal com entrega única para cada perfil com base nos algoritmos, Reis destaca o papel dos dados em uma comunicação segmentada, que já conversa com grupos específicos do mercado, que possuem afinidades e características em comum.
“Todos os segmentos podem trabalhar dessa forma. A gente tem visto os departamentos de Recursos Humanos sendo orientados por dados, a medicina tem usado de forma massiva para soluções que atenda cada indivíduo e, não, para grupos. Então, o mundo todo passa a ser orientado por dados”, declarou.
Na avaliação do CEO, a maioria das empresas está em um patamar que já compreende a necessidade de usar melhor os dados para agregar valor e se encontra em um momento de aprendizado de como executar esse processo.
“Hoje, o poder está com quem tem dados, e não apenas com quem tem petróleo, pois você pode gerar riqueza se você processa dados, assim como quem processa petróleo. Então, as empresas entendem que os dados têm valor, mas a maior parte está aprendendo como usar”, explicou.
Reis alerta, contudo, que apenas os dados não são suficientes para a empresa gerar valor e relevância, assim como um campo de petróleo é obsoleto sem o processo de perfuração, exploração e refino. “Não adianta ter informações dos clientes soltas em planilhas espalhadas pela empresa. Existem os dados, mas ela não está preparada para criar uma jornada que atende o cliente de forma customizada”, comentou. “Para isso, é necessário extrair e disponibilizar os dados para que um profissional possa trabalhar com planejamento e estratégia para conversar com cada pessoa”, acrescentou.
Reis destacou o crescimento no número de empresas no mercado tech, com decisões tomadas com base nos dados e, não, em feeling ou tradição. A principal característica é a busca por soluções disruptivas em mercados como medicina, financeiro, construção civil, mídia, agro e outros.
Algoritmos em alta
Na análise do CEO, esse cenário só é possível, principalmente, por uma questão estrutural por conta da capacidade de armazenamento de um alto volume de dados e processamento de baixo custo. “Há 20 anos, um estudante salvava os conteúdos em um disquete de 1 mb. Hoje, um pen-drive de 32 gb é acessível por preço baixo. O custo do processamento de dados também é extremamente barato. Um celular possui o mesmo nível de processamento que o computador que levou o homem para a lua”, comparou.
Com tecnologia e preço para armazenar e processar, a Inteligência Artificial entrou em cena e criou a possibilidade de atendimento pessoal em larga escala. “Nós teríamos uma limitação humana para tomar decisões com base em dados, mas a partir do momento que você consegue escalar isso em algoritmos de Inteligência Artificial, é possível oferecer uma curadoria de conteúdo diferente para cada cliente de uma base de 2 milhões de pessoas.”
Reis lembrou que o comportamento do cliente e interesse de mercado é fundamental neste processo, mas ressaltou que sem a estrutura atual, a Big Data não existiria. “Só é possível criar e atender esse mercado a partir do momento que existe essa estrutura em tecnologia e preço acessível”, afirmou.
Para o CEO, a dualidade entre o online e offline deve deixar de existir com a ideia de comunicação 360. “Ao invés de um matar o outro, nós temos visto as empresas trabalharem com a integração, privilegiando a experiência do cliente. Isso ocorre no mercado de publicidade e comunicação e também nas vendas de lojas físicas e e-commerces.”
“Há 20 anos, um estudante salvava os conteúdos em um disquete de 1 mb. Hoje, um pen-drive de 32 gb é acessível por preço baixo. O custo do processamento de dados também é extremamente barato. Um celular possui o mesmo nível de processamento que o computador que levou o homem para a lua”
Reis destacou o crescimento no número de empresas no mercado tech, com decisões tomadas com base nos dados e, não, em feeling ou tradição. A principal característica é a busca por soluções disruptivas em mercados como medicina, financeiro, construção civil, mídia, agro e outros.
Mercado digital exige convergência de conhecimentos
A nova fase de tomadas de decisões ancoradas na gestão de dados também exige uma ruptura na formação dos profissionais ao modelo tradicional de ensino e preparação para o mercado de trabalho. A consultora de marketing, negócios, empreendedorismo e inovação, Daniela Senador, que atua como professora de pós e MBA nessas áreas, afirmou que o novo profissional deve ter um perfil de conhecimento múltiplo, aberto para integrar o saber em diferentes setores.
Habilidades nas plataformas digitais, monitoramento de audiência, SEO, gestão de pessoas e planilhas para formular gráficos são algumas das “skills” do profissional que une conhecimentos para mensurar dados, corrigir rotas e obter resultados mais eficazes.
“É tudo mais complexo por causa da confluência de conhecimentos. Quando se fala de jornada do consumidor, estamos trabalhando com um conceito de marketing, que não é apenas dessa área, mas também da psicologia, pois vamos entender os gatilhos que levam o consumidor a se vincular emocionalmente com uma marca, adquirindo o produto, falando bem do que está consumindo. É marketing, mas também é psicologia, sociologia, antropologia, fora os conhecimentos comerciais e de gestão”, analisou
Senador destacou que “tudo pode ser mensurado” no digital e que boas práticas podem ser aplicadas para mensurar os resultados que ainda não estão sendo medidos. Para isso, comunicação, marketing e psicologia recebem o suporte do conhecimento tecnológico, matemática e estatística.
“São muitos conhecimentos de diversas áreas distintas que são mobilizados. Como você vai espelhar esses dados em uma plataforma, em um ambiente digital, isso já exige conhecimento técnico. Como você vai taguear e mensurar tudo isso, já é uma questão técnica. O que você vai fazer com esses números? Isso exige análise de dados, que envolve matemática, estatística e soma de outras áreas”, acrescentou.
A partir das redes sociais, Senador destaca que o mercado passou a conhecer quem está do outro lado. O resultado: empresas mais empáticas e menos autocentradas. “Redes sociais sempre existiram na humanidade. As mídias sociais surgiram para concretizar e ampliar um comportamento que é inerente ao ser humano.”